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O GPT e a Degradação da Escrita

  • Foto do escritor: Adv. Tatyana M. Zagari
    Adv. Tatyana M. Zagari
  • 26 de fev.
  • 2 min de leitura

A proliferação desenfreada do GPT como instrumento de redação tem ladrilhado um caminho deplorável: a estandardização mecânica da escrita, despojando-a de autenticidade e obliterando qualquer resquício de eloquência.

As locuções genéricas, as fórmulas estereotipadas e as construções previsíveis disseminam-se com celeridade vertiginosa, corrompendo textos dos mais variados gêneros.


No âmbito do Judiciário, a degradação é ainda mais patente: as petições tornaram-se homogêneas, destituídas de singularidade e de vivacidade.

Ao percorrer um arrazoado, logo se percebe a artificialidade do texto, o verniz que dilui a identidade do profissional.


Dentre os vícios mais execráveis e popularizados pela inteligência artificial, avulta a infame construção em orações coordenadas adversativas do tipo "não só... mas também". A recorrência exasperante dessa estrutura, com seu ritmo previsível e sua cadência entorpecente, representa a derrocada da expressividade genuína.

Esta horrenda fórmula infiltra-se em todo tipo de texto, minando-lhe a força argumentativa e tornando-o insípido.

A repetição acrítica desse expediente denuncia a indigência intelectual de quem o adota.


Ora, a escrita não pode ser reduzida a uma profusão exangue de palavras moldadas por um algoritmo.

A retórica exige plasticidade, a argúcia do raciocínio e a singularidade da expressão. Requer a sensibilidade para captar entretons e contrastes que vão além das estruturas frias e estáticas.



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Eis a questão central: a inteligência artificial não escreve, apenas empilha palavras conforme padrões estatísticos.

Carece de intuição, de inspiração e de fulgor estilístico autêntico.

Quem se rende à inércia intelectual do GPT, sem qualquer discernimento ou crítica, abdica da própria voz, entregando-se à inexpressividade de um texto anódino, de uma escrita morta, desprovida de alma.


Aos que ainda prezam a linguagem como instrumento de identidade e persuasão, cabe um alerta: a escrita não pode ser terceirizada às engrenagens da previsibilidade. Compete a cada um resistir ao império da mediocridade e restaurar a pujança expressiva do pensamento, da comunicação.


De repente me vejo dentro da realidade distópica de 1984, de George Orwell.

Ocultando minha face na penumbra de minha própria consciência, sussurro, entre o desabafo e a resignação: _ A 'Novilíngua' é o último suspiro da reflexão crítica do ser humano.

E tal qual o protagonista, encontro-me imersa na ironia inexorável de meu próprio destino: sirvo ao 'Ministério da Verdade', por vezes pavimentando o caminho que tanto abomino.


 
 
 

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