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O Supremo Tribunal da Simplificação Jurídica: O Dia em que a Justiça se Reduziu a Emojis

  • Foto do escritor: Adv. Tatyana M. Zagari
    Adv. Tatyana M. Zagari
  • 2 de fev.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de fev.


No augusto recinto do Supremo Tribunal da Simplificação Jurídica (STSJ), iniciava uma sessão que se revestia de uma atmosfera inusitada. Em expectação histórica, a plateia se aglomerava. Afinal, seria instaurado um novo paradigma: a Justiça Brasileira, outrora cercada de vernáculos jurídicos arcaicos, transmutar-se-ia em um formato novo e despojado, apto a dialogar com o cidadão comum.


Os ministros adentraram o plenário envergando distintivos com a inscrição “⚖️ JUSTIÇA AGORA É SIMPLES™” e vestimentas adornadas com uma paleta de emojis, remetendo a uma estética que mesclava modernidade e ludicidade. Repórteres, imersos em fervor, transmitiam ao vivo a sessão, enquanto influenciadores jurídicos, ávidos por conteúdos instantâneos, registravam o evento em efêmeros vídeos de 15 segundos, alimentando o apetite das redes sociais.


No bojo da pauta, emergia a proposta revolucionária: a imposição de uma regra que limitava o uso de argumentos jurídicos a 12 palavras por frase, sob o preceito de que “pensar em demasia complica a Justiça”. A medida, audaciosa e repleta de ironia, evocava reminiscências das críticas que Montesquieu e Voltaire teceram acerca dos excessos burocráticos e da obscuridade do vernáculo legal.


A Sessão do Julgamento



Criado por I.A.
Criado por I.A.

Ao soar do martelo presidencial, o ambiente tornou-se um espaço de concisão e rapidez.


— Sejamos diretos: o que diz a lei?, exclamou o presidente da corte com a solenidade de um orador estoico.


Ergueu-se, então, o advogado do grupo “DIREITO DIRETO”, autor da ação, que, com a confiança dos que se pautam na razão, proclamou:


— Ninguém será privado de liberdade sem o devido processo legal.


O ministro relator, porém, arqueou a testa em sinal de desaprovação:


Devido processo legal é expressão demasiadamente complexa; sugiro que a substituamos por Justiça Rápida.


— Admirável sugestão, Excelência, replicou o advogado com a prontidão que o momento requeria.


Quando o defensor, já tomado por um ímpeto de retórica apaixonada, tentou reverter a alteração:


— Mas, Excelência, esta substituição atentará contra a essência do conceito jurídico fundamental!


O ministro, impassível, dirigiu seu olhar ao cronômetro digital que marcava rigorosamente os limites da nova norma:


— Registre-se: excedeu 12 palavras. O inconformismo está, portanto, indeferido.


Respirando profundamente, o defensor readaptou sua exposição, desta vez obedecendo à regra:


— Processo requer regras.


O ministro, visivelmente satisfeito, replicou:


— Melhor. Agora, convença-me em termos ainda mais sucintos.


— Regras boas.


— Adequado! Enfim, a clareza impera.


Prosseguindo, o presidente do tribunal anunciou de forma categórica:


— Fica, por decisão unânime, estabelecido que ‘devido processo legal’ passará a significar ‘Justiça Rápida’. Se uma pessoa foi detida, conclui-se que há razão inequívoca para tanto. Justiça tardia não se coaduna com o ideal de equidade. Caso encerrado.


A multidão, em êxtase, propagava imediatamente resumos em tweets, acompanhados de GIFs e emojis alusivos a martelos e demais simbolismos, enquanto ministros se entregavam a breves coreografias no TikTok, ao som de um remix inusitado intitulado “A Justiça Nunca Erra Remix™”.



A Criação da Comissão de Simplificação da Justiça





Em decorrência do êxito retumbante da decisão, o STSJ instituiu a Comissão Nacional de Linguagem Jurídica Simples, cujo encargo era reformular o glossário jurídico para torná-lo acessível ao público leigo. Entre as inovações, destacavam-se as seguintes renomeações:


  • Crime hediondo passou a ser denominado “Crime Ruim” 🏴‍☠️

  • Direito ao contraditório foi rebatizado como “Direito a Falar Rapidinho” 🎤⌛

  • Dolo eventual ganhou a alcunha de “Erro Sem Querer Querendo” 🤷‍♂️

  • Presunção de inocência transformou-se em “Chance de Estar Certo” 🤞⚖️


O imperativo de utilizar memes e emojis em acórdãos converteu-se em norma obrigatória, proporcionando uma nova dimensão de compreensão para o público.


O primeiro acórdão sob este formato exibia a seguinte mensagem:

💀📜 “Réu culpado. 😂👍 #JustiçaRápida #AzarJurídico




A Nova Era da Justiça Viral™


Nos corredores do tribunal, o debate fervilhava. Jornalistas entrevistavam especialistas que, em uníssono, argumentavam sobre as implicações da simplificação excessiva.


Um professor de Direito, tomado por uma angústia quase que platônica, lamentou:

— Esta mudança desvirtua a estrutura do Direito! Conceitos jurídicos existem para inibir arbitrariedades, e não para se transmutarem em meros GIFs!


Todavia, seu discurso, imerso em erudição e prolongado em demasia, foi silenciado abruptamente, ao passo que a âncora do telejornal, com um sorriso irônico, direcionava a atenção para o “especialista em Direito Direto”, incumbido de sintetizar a questão em menos de dez palavras.


Este, com a concisão que a modernidade exigia, declarou:


— Agora é simples. Quem questiona, complica. Justiça boa. 👍⚖️


O segmento rapidamente viralizou, e o novo sistema judicial foi internacionalmente aclamado como “um modelo de acessibilidade jurídica”.


Em concomitância, o governo lançou a inteligência artificial JusPáPum™, um chatbot que respondia às consultas jurídicas utilizando, invariavelmente, três emojis e um GIF, em uma ode à brevidade comunicativa.




O Impacto Final: A Suprema Corte da Emojistência


Com a instaurada revolução da Justiça Simplificada™, o Brasil emergiu na vanguarda de uma nova era jurídica, em que acórdãos eram divulgados no Instagram e até os tradicionais habeas corpus foram rebatizados, de forma jocosa, porém real, de “Me Solta Pls 🙏”.


Na semana subsequente, o STSJ divulgou um novo lema:

📢 “Justiça para todos! Mas, se reclamar, é azar jurídico.” 🤷‍♂️⚖️😂


E assim, num movimento que mesclava modernidade, irreverência e um profundo anseio por democratizar o acesso ao Direito, a Justiça, outrora envolta em complexos labirintos linguísticos, alcançava-se, enfim, a compreensão universal.


Finis.

 
 
 

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